LEGO EDUCATION CONSTRUINDO
COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO ESPECIAL DE JOVENS – ADULTOS–E–IDOSOS
Adegundes Maciel
Vivian Alves
Introdução
A inclusão escolar de alunos com
necessidades educacionais específicas, principalmente na rede regular de ensino,
há bom tempo, já se tornou tema de debate. A legislação é clara, quanto à
obrigatoriedade de se acolher e matricular estes alunos, independente de suas
necessidades ou diferenças. No entanto, é insuficiente apenas esse acolhimento,
mas que estas crianças carentes dessas necessidades especiais tenham condições
efetivas de aprendizagem e desenvolvimento de suas potencialidades.
A
Educação Especial vive um momento de revisão epistemológica. Esta revisão é
baseada nos movimentos de Educação Inclusiva. Estas mobilidades são resultados
de mudanças ocorridas nas atitudes sociais que se estabeleceram ao longo da
história, com relação ao tratamento às pessoas com deficiência. Dessa forma, o
grande desafio dos educadores neste século, poderia ser de encontrar
ferramentas tecnológicas capazes de ajudar estes educandos a melhorar ou
adquirir competências que, nas atividades didáticas tradicionais não obtiveram
avanços significantes.
A
educação na Sociedade do Conhecimento aderiu aos avanços das novas tecnologias,
como aos supercomputadores, softwares educativos, Internet Web1-2-3, mas
compreendeu que a robótica infantil tem seu papel hermenêutico na construção de
bloco a bloco (FEITOSA, 2013), assim como acontece na formação do cidadão – por
etapas–.
Dessa
forma, foi escolhido o material “Blocos de LEGO”, no sentido de prestigiar
novas ferramentas didáticas que são adquiridas pelas instituições públicas no
sentido de ajudar a construir competências, também, a educandos desde a
Educação Infantil, mas desta vez optou-se pelos de necessidades de Educação Especial,
ou seja, de necessidades específicas.
Fundada
na Dinamarca em 1932 por um carpinteiro, Ole Kirk Kristiansen, a companhia
“LEGO®”, mundialmente conhecida pelos blocos de montar, ao longo de sua
história, sempre teve o desenvolvimento do potencial criativo do ser humano
como o motivo de sua existência, tendo sido parte da vida de mais de 800
milhões de famílias em todo o mundo. No ano de 2.000, o LEGO foi eleito o
“Brinquedo do Século” pela associação de lojistas dos Estados Unidos e da
Inglaterra (MACHADO, 2016). Esse gênero de ferramenta pode auxiliar no contexto
curricular ou extracurricular do Ensino Infantil ao Ensino Médio. O processo é
baseado em propostas e estudos de renomados pesquisadores da área educacional –
fundamentadas nos quatro pilares para a educação da UNESCO: aprender a fazer,
aprender a ser, aprender a conviver e aprender a conhecer.
Dessa
forma, a Prefeitura do Recife investiu nessa proposta e proporcionou nas suas
Unidades de Ensino, a prática desse material como mais uma opção pedagógica
dentro de suas salas de aula. A Secretaria Executiva de Tecnologia (SETE) – vem
formalizando e capacitando os professores para tanto.
Neste
sentido, este estudo objetivou investigar o desenvolvimento cognitivo de seis
educandos especiais do Ensino de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI) quando
submetidos às atividades didáticas com material da LEGO e identificar evoluções
de competências quanto ao nível de Concentração (C), Interação (I) e Oralidade
(O), compreensão após estas atividades lúdico-construtivistas.
Seria
possível identificar avanços na aprendizagem desses educandos maiores através
de práticas associadas a “LEGO Education”? Acreditou-se que haveria motivação
“ao novo” e à ludicidade do material didático como, integração a temas envolventes
e correlacionados. Portanto, possibilidades de aprendizagem significativa.
Metodologia
Realizado
na Unidade Escolar pública GF da periferia de Recife, reuniram-se dois grupos
aleatórios de três educandos de necessidades especiais: (H1, M1, M2); (H2, H3,
H4) com várias construções de atividades de três horas/noite. Foram explorados
temas propostos pelo Lego Education, como: vida urbana, máquinas e transportes,
casa e campo. Numa sequência crescente de dificuldades, foram iniciados os
trabalhos com conceitos mediados sobre articulações e engrenagens, formato dos
eventos das construções e apresentações individuais de cada equipamento em
miniatura. Cada educando expressou oralmente a construção do grupo,
dificuldades e sua importância social.
Em
relação ao grupo 1, H1(52) apresentou-se com deficiência de argumentações,
interpretação oral e memorizações apenas temporais distantes; M1(48) tem
deficiência no membro superior esquerdo, dificuldades de relacionamentos com o
sexo oposto, baixa autoestima e segurança, ou seja, percebendo certo grau de
insegurança em qualquer atividade, pensa logo em desistir a realizá-la; M2(21)
apresentou-se com boa sociabilidade, mas com muita dificuldade em apresentações
de trabalhos quanto a oralidade – muita timidez, mas com comportamento de que tudo
que ela faz é sempre melhor do que as dos outros.
O grupo 2
apresentou H2(20) com problemas comportamentais em sala de aula – por qualquer
motivo, batia em todos os colegas, engatinhava nas horas de aulas, mas já com o
advento da informática tinha-se percebido que melhorou muito os comportamentos
estranhos; H3(54) com oralidade e criatividade regulares, mas com dificuldades
de lembrar a curto tempo, e como tem certa idade madura, apresentou boa
experiência de vida; H4(45 anos) apresentou-se muito tímido, oralidade muito
fragilizada e com atitudes de sempre transferir para os outros apresentações de
trabalhos em equipe, dificuldades em cores, numerais e fonemas.
Resultados
e discussões
Diante
dos resultados acompanhados, pôde-se perceber que as experiências de vida
trazida pelos sujeitos do EJAI puderam facilitar na contextualização dos temas
e nas construções de “Blocos da Lego”. Apenas nos primeiros momentos da
primeira atividade houve certa tensão nas mobilidades, por parte dos educandos,
mas seguindo com naturalidade. No Quadro1, estão distribuídos conceitos percebidos
com a evolução relativa dos educandos após as práticas das atividades nos dois
grupos com o Lego Education.
Quadro 1 – Desempenho das Competências pretendidas
nos grupos
COMPETÊNCIAS
|
Grupo
1
|
Grupo
2
|
|||||
H1
|
M1
|
M2
|
H2
|
H3
|
H4
|
||
Concentração
|
ótimo
|
bom
|
bom
|
bom
|
ótimo
|
?
|
|
Interação
|
ótimo
|
regular
|
ótimo
|
ótimo
|
ótimo
|
?
|
|
Oralidade
|
ótimo
|
bom
|
bom
|
regular
|
ótimo
|
?
|
|
O
integrante do grupo 1, educando H1, surpreendeu com sua desenvoltura em todos
os encontros, sua criatividade na apresentação oral, detalhes e disciplina com
as palavras, deixaram a impressão de que o Lego foi uma ferramenta de muita
motivação para a evolução do raciocínio cognitivo, mas também, de proporcionar
competências para a construção em grupo.
M1
recusou-se em participar da última atividade que a exigia pouco mais de
habilidades, pois se sentiu prejudicada por imobilidade em um dos membros
superiores – escolheu só assistir às construções a esta final apresentação de
seu grupo. Mesmo assim, suas atividades que exigiam concentração e oralidade
melhoraram sensivelmente. A integrante M2 evoluiu como M1, mas mostrou maior
interação com o grupo, além de perder mais a timidez.
O
integrante do grupo 2, H2, com o passar das atividades, deixou de ser agressivo
com seus colegas, como também de continuar com sua forma de engatinhar pela
sala de aula, sem sentido algum. Desta vez, mostrou-se até preocupado em
ajudar, colaborando com os companheiros do outro grupo que demoravam encerrar suas
missões.
O
educando H3 surpreendeu na sua oralidade. Apresentou a construção de seu grupo
com muita segurança, embora com pouca velocidade, mas com muita convicção.
Muito preocupado com os seus colegas, demonstrou liderança quando interagia com
todos.
O nível
de concentração dos grupos, com exceção do educando H4, foi bem avaliado. Como
mostra o Quadro 1, H4 não resistiu ao nível das atividades e só compareceu a
dois encontros, fragilizando, assim, a avaliação de suas competências
construídas. Mesmo assim, já mostrava conhecimento das cores e menos timidez,
fato já esperado, pois o material utilizado é muito rico de cores primárias, e
com as mobilidades exaustivas das peças, o exercício favoreceu a memorização.
Considerações
finais
A
interação entre os educandos, nas atividades com o Lego Education, superou as
expectativas, o cuidado e a preocupação com “o outro” foi marcante. Interessava
em todos cumprir as construções até o final, contemplando o tema da montagem em
execução. As estruturas encaixadas bloco a bloco, multicoloridos, efetivamente,
concebiam miniaturas frutos de temas que se destacavam pelas vivências,
interesses sociais, trabalho no campo, cidade, transportes, e, dessa forma, a
motivação foi notável quando percebiam se concretizar sob a forma de miniaturas
espaciais, aquilo que se propunha por imaginação.
As
experiências de vida trazidas pelos sujeitos do EJAI puderam facilitar a
contextualização dos temas e as construções associadas de “Blocos da Lego”.
Apenas na primeira atividade houve certa tensão nas mobilidades, mas seguindo
com naturalidade. A interatividade entre os atores foi expressiva quando
perceberam o tempo disciplinando as construções. As apresentações surpreenderam
relacionadas à vida cotidiana, o desempenho nos contextos elaborados em temas
atrativos, evoluiu o comportamento comunicativo, a concentração e a interação
foram muito percebidas, assim como, a aprendizagem significativa (AUSUBEL,
2004) que teve seu espaço nas construções de saberes.
Assim, o
material “LEGO®” criado por Ole Kirk Kristiansen deve ser recomendado a alunos
com necessidades educacionais específicas, em salas de aulas. Entretanto,
acredita-se que toda tecnologia inovadora necessita do mesmo planejamento
ostensivo. Que para tratar de pessoas com necessidades especiais, a arte de
ensinar deva existir muita dedicação por parte do educador, pois, caso
contrário, poderá provocar maior número de evasões, como aconteceu com o
educando H4 na missão deste trabalho. Dessa forma, seriam bem pertinentes novas
verificações em pesquisas tratando de grupos com especificidades comuns,
metodologias apropriadas e análises por categorias de novos casos. Portanto,
este será nosso próximo desafio.
A
concepção subjacente a este documento considera que a proposta da Educação
Inclusiva implica em mudanças estruturais nos sistemas educacionais, ou seja, a
adoção de um novo paradigma educacional fundamentado no processo de construção
do conhecimento e no respeito à diferença. Portanto, este será o nosso próximo
sonho!
Referências
AUSUBEL,
D. P. A. Aprendizagem significativa: a
teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982.
FEITOSA,
Jefferson Gustavo. Manual
didático-pedagógico. 1.ed., Curitiba: Zoom Editora Educacional, 2013. ISBN
978-85-7919-451-1.
MACHADO,
Thiago. Revista Start Life, ago.
2016. Disponível em: https://www.facebook.com/
revistastartlife/photos/pb.422727494576150.-2207520000.1470908423./570160419832856/?type=3 Acesso em: 23 set. 2016.