quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

II CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA / II JORNADA CHILENA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA

LEGO EDUCATION CONSTRUINDO COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO ESPECIAL DE JOVENS – ADULTOS–E–IDOSOS 
Adegundes Maciel
Vivian Alves

Introdução

A inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais específicas, principalmente na rede regular de ensino, há bom tempo, já se tornou tema de debate. A legislação é clara, quanto à obrigatoriedade de se acolher e matricular estes alunos, independente de suas necessidades ou diferenças. No entanto, é insuficiente apenas esse acolhimento, mas que estas crianças carentes dessas necessidades especiais tenham condições efetivas de aprendizagem e desenvolvimento de suas potencialidades.

A Educação Especial vive um momento de revisão epistemológica. Esta revisão é baseada nos movimentos de Educação Inclusiva. Estas mobilidades são resultados de mudanças ocorridas nas atitudes sociais que se estabeleceram ao longo da história, com relação ao tratamento às pessoas com deficiência. Dessa forma, o grande desafio dos educadores neste século, poderia ser de encontrar ferramentas tecnológicas capazes de ajudar estes educandos a melhorar ou adquirir competências que, nas atividades didáticas tradicionais não obtiveram avanços significantes.

A educação na Sociedade do Conhecimento aderiu aos avanços das novas tecnologias, como aos supercomputadores, softwares educativos, Internet Web1-2-3, mas compreendeu que a robótica infantil tem seu papel hermenêutico na construção de bloco a bloco (FEITOSA, 2013), assim como acontece na formação do cidadão – por etapas–.

Dessa forma, foi escolhido o material “Blocos de LEGO”, no sentido de prestigiar novas ferramentas didáticas que são adquiridas pelas instituições públicas no sentido de ajudar a construir competências, também, a educandos desde a Educação Infantil, mas desta vez optou-se pelos de necessidades de Educação Especial, ou seja, de necessidades específicas.

Fundada na Dinamarca em 1932 por um carpinteiro, Ole Kirk Kristiansen, a companhia “LEGO®”, mundialmente conhecida pelos blocos de montar, ao longo de sua história, sempre teve o desenvolvimento do potencial criativo do ser humano como o motivo de sua existência, tendo sido parte da vida de mais de 800 milhões de famílias em todo o mundo. No ano de 2.000, o LEGO foi eleito o “Brinquedo do Século” pela associação de lojistas dos Estados Unidos e da Inglaterra (MACHADO, 2016). Esse gênero de ferramenta pode auxiliar no contexto curricular ou extracurricular do Ensino Infantil ao Ensino Médio. O processo é baseado em propostas e estudos de renomados pesquisadores da área educacional – fundamentadas nos quatro pilares para a educação da UNESCO: aprender a fazer, aprender a ser, aprender a conviver e aprender a conhecer.

Dessa forma, a Prefeitura do Recife investiu nessa proposta e proporcionou nas suas Unidades de Ensino, a prática desse material como mais uma opção pedagógica dentro de suas salas de aula. A Secretaria Executiva de Tecnologia (SETE) – vem formalizando e capacitando os professores para tanto.

Neste sentido, este estudo objetivou investigar o desenvolvimento cognitivo de seis educandos especiais do Ensino de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI) quando submetidos às atividades didáticas com material da LEGO e identificar evoluções de competências quanto ao nível de Concentração (C), Interação (I) e Oralidade (O), compreensão após estas atividades lúdico-construtivistas.

Seria possível identificar avanços na aprendizagem desses educandos maiores através de práticas associadas a “LEGO Education”? Acreditou-se que haveria motivação “ao novo” e à ludicidade do material didático como, integração a temas envolventes e correlacionados. Portanto, possibilidades de aprendizagem significativa.

Metodologia

Realizado na Unidade Escolar pública GF da periferia de Recife, reuniram-se dois grupos aleatórios de três educandos de necessidades especiais: (H1, M1, M2); (H2, H3, H4) com várias construções de atividades de três horas/noite. Foram explorados temas propostos pelo Lego Education, como: vida urbana, máquinas e transportes, casa e campo. Numa sequência crescente de dificuldades, foram iniciados os trabalhos com conceitos mediados sobre articulações e engrenagens, formato dos eventos das construções e apresentações individuais de cada equipamento em miniatura. Cada educando expressou oralmente a construção do grupo, dificuldades e sua importância social.

Em relação ao grupo 1, H1(52) apresentou-se com deficiência de argumentações, interpretação oral e memorizações apenas temporais distantes; M1(48) tem deficiência no membro superior esquerdo, dificuldades de relacionamentos com o sexo oposto, baixa autoestima e segurança, ou seja, percebendo certo grau de insegurança em qualquer atividade, pensa logo em desistir a realizá-la; M2(21) apresentou-se com boa sociabilidade, mas com muita dificuldade em apresentações de trabalhos quanto a oralidade – muita timidez, mas com comportamento de que tudo que ela faz é sempre melhor do que as dos outros.

O grupo 2 apresentou H2(20) com problemas comportamentais em sala de aula – por qualquer motivo, batia em todos os colegas, engatinhava nas horas de aulas, mas já com o advento da informática tinha-se percebido que melhorou muito os comportamentos estranhos; H3(54) com oralidade e criatividade regulares, mas com dificuldades de lembrar a curto tempo, e como tem certa idade madura, apresentou boa experiência de vida; H4(45 anos) apresentou-se muito tímido, oralidade muito fragilizada e com atitudes de sempre transferir para os outros apresentações de trabalhos em equipe, dificuldades em cores, numerais e fonemas.

Resultados e discussões

Diante dos resultados acompanhados, pôde-se perceber que as experiências de vida trazida pelos sujeitos do EJAI puderam facilitar na contextualização dos temas e nas construções de “Blocos da Lego”. Apenas nos primeiros momentos da primeira atividade houve certa tensão nas mobilidades, por parte dos educandos, mas seguindo com naturalidade. No Quadro1, estão distribuídos conceitos percebidos com a evolução relativa dos educandos após as práticas das atividades nos dois grupos com o Lego Education.

                              Quadro 1 – Desempenho das Competências pretendidas nos grupos
COMPETÊNCIAS
Grupo 1
Grupo 2
H1
M1
M2
H2
H3
H4
Concentração
ótimo
bom
bom
bom
ótimo
?
Interação
ótimo
regular
ótimo
ótimo
ótimo
?
Oralidade
ótimo
bom
bom
regular
ótimo
?

O integrante do grupo 1, educando H1, surpreendeu com sua desenvoltura em todos os encontros, sua criatividade na apresentação oral, detalhes e disciplina com as palavras, deixaram a impressão de que o Lego foi uma ferramenta de muita motivação para a evolução do raciocínio cognitivo, mas também, de proporcionar competências para a construção em grupo.

M1 recusou-se em participar da última atividade que a exigia pouco mais de habilidades, pois se sentiu prejudicada por imobilidade em um dos membros superiores – escolheu só assistir às construções a esta final apresentação de seu grupo. Mesmo assim, suas atividades que exigiam concentração e oralidade melhoraram sensivelmente. A integrante M2 evoluiu como M1, mas mostrou maior interação com o grupo, além de perder mais a timidez.

O integrante do grupo 2, H2, com o passar das atividades, deixou de ser agressivo com seus colegas, como também de continuar com sua forma de engatinhar pela sala de aula, sem sentido algum. Desta vez, mostrou-se até preocupado em ajudar, colaborando com os companheiros do outro grupo que demoravam encerrar suas missões.

O educando H3 surpreendeu na sua oralidade. Apresentou a construção de seu grupo com muita segurança, embora com pouca velocidade, mas com muita convicção. Muito preocupado com os seus colegas, demonstrou liderança quando interagia com todos.

O nível de concentração dos grupos, com exceção do educando H4, foi bem avaliado. Como mostra o Quadro 1, H4 não resistiu ao nível das atividades e só compareceu a dois encontros, fragilizando, assim, a avaliação de suas competências construídas. Mesmo assim, já mostrava conhecimento das cores e menos timidez, fato já esperado, pois o material utilizado é muito rico de cores primárias, e com as mobilidades exaustivas das peças, o exercício favoreceu a memorização.

Considerações finais

A interação entre os educandos, nas atividades com o Lego Education, superou as expectativas, o cuidado e a preocupação com “o outro” foi marcante. Interessava em todos cumprir as construções até o final, contemplando o tema da montagem em execução. As estruturas encaixadas bloco a bloco, multicoloridos, efetivamente, concebiam miniaturas frutos de temas que se destacavam pelas vivências, interesses sociais, trabalho no campo, cidade, transportes, e, dessa forma, a motivação foi notável quando percebiam se concretizar sob a forma de miniaturas espaciais, aquilo que se propunha por imaginação.

As experiências de vida trazidas pelos sujeitos do EJAI puderam facilitar a contextualização dos temas e as construções associadas de “Blocos da Lego”. Apenas na primeira atividade houve certa tensão nas mobilidades, mas seguindo com naturalidade. A interatividade entre os atores foi expressiva quando perceberam o tempo disciplinando as construções. As apresentações surpreenderam relacionadas à vida cotidiana, o desempenho nos contextos elaborados em temas atrativos, evoluiu o comportamento comunicativo, a concentração e a interação foram muito percebidas, assim como, a aprendizagem significativa (AUSUBEL, 2004) que teve seu espaço nas construções de saberes.

Assim, o material “LEGO®” criado por Ole Kirk Kristiansen deve ser recomendado a alunos com necessidades educacionais específicas, em salas de aulas. Entretanto, acredita-se que toda tecnologia inovadora necessita do mesmo planejamento ostensivo. Que para tratar de pessoas com necessidades especiais, a arte de ensinar deva existir muita dedicação por parte do educador, pois, caso contrário, poderá provocar maior número de evasões, como aconteceu com o educando H4 na missão deste trabalho. Dessa forma, seriam bem pertinentes novas verificações em pesquisas tratando de grupos com especificidades comuns, metodologias apropriadas e análises por categorias de novos casos. Portanto, este será nosso próximo desafio.

A concepção subjacente a este documento considera que a proposta da Educação Inclusiva implica em mudanças estruturais nos sistemas educacionais, ou seja, a adoção de um novo paradigma educacional fundamentado no processo de construção do conhecimento e no respeito à diferença. Portanto, este será o nosso próximo sonho!

Referências

AUSUBEL, D. P. A. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982.

FEITOSA, Jefferson Gustavo. Manual didático-pedagógico. 1.ed., Curitiba: Zoom Editora Educacional, 2013. ISBN 978-85-7919-451-1.

MACHADO, Thiago. Revista Start Life, ago. 2016. Disponível em: https://www.facebook.com/
revistastartlife/photos/pb.422727494576150.-2207520000.1470908423./570160419832856/?type=3 Acesso em: 23 set. 2016.